30 abril 2011

O "je ne sais quoi" do atum

- de que são eles feitos ? e nós de que somos ?
- água, sangue, tecido, músculo...
  sim, eu até entendo. mas falta-me o resto. e dizer "resto" assim, sem condimento nenhum, é mais vago e banal do que o que parece. 
às vezes olho para as pessoas e vejo pó, um pano de cozinha, uma chave de fendas; vejo uma tijoleira que se partiu, sacas de plástico, uma garrafa vazia. e sei que são coisas vãs e vis para se ver em pessoas. e sinto-me, por defeito, vazia, à mercê da circunstância. restos de vazio e agora a língua é matemática. e às vezes sei juntar coisas: um abraço que limpa o pó (da pele), um pano que enxuga as lágrimas, um mão ensanguentada que se magoou na garrafa, uma lata de atum que se perdeu porque a saca se furou... tudo na volta do supermercado, que é onde as pessoas vão mais. 
e é assim que começo a achar que também somos feitos de vidro, sal, plástico e atum. acrescento uma série de missangas, talvez. 
e não deve ser mentira nenhuma. agora mesmo, que ninguém duvide, sou atum em lata