20 janeiro 2014

Bijuteria

Dava uma fortuna por esse teu coração. 

Vendi a minha mota para te comprar aquele colar caro que andavas a namorar há meses. Eu bem que gostava de andar com a mota a vaguear por aí, mas vendi-a. Vendi-a e agora não tenho nada em meu nome. 

Tu ficaste contente e até me sorriste por mais vinte segundos que o habitual. E no outro dia vi-te a usar o colar caro na festa da Maria. Exibias-te e estavas bonita. Mas não falavas comigo, olhavas-me só de relance. 

Vi-te de braço dado com outro moço, mais tarde. Ele levou-te ao restaurante, tem carro e deu-te um anel com um diamante. E eu não tenho nada em meu nome. 

O moço é rico. Vi-o nas fotos do facebook e já viajou pelo mundo inteiro. Agora vai buscar-te à porta de casa e cumprimenta a tua mãe com dois beijinhos. Desfila-te pela cidade e pavoneia-se sem fim. 

E eu, que dava uma fortuna por esse teu coração, e que só tinha a mota em meu nome, assisto a toda a cena. A pé. E nem me posso gabar por te ter dado um colar. Dizes que é bijuteria e que o vais leiloar nas festas da freguesia. 

Ainda assim, o meu peito tem o teu nome. E vais ver-me derramar duas lágrimas mudas quando te casares com esse homem que não percebe de fortunas e que não precisa de vender nada para te dar o mundo inteiro. 

Mas eu já sabia e sou tolo: tu não queres o meu nome após o teu. E é por isso que eu vou mudar o peito de morada e juntar dinheiro para outra mota.