16 novembro 2010

É deste tempo...

                 As minhas palavras. Estas. Secaram. Secam à medida que as escrevo, enquanto as desenho num tracejar difícil e incerto. Secas. Como as folhas de Outono que eu gosto de pisar. Porque fazem barulho, um sonar parecido com os dos cereais ao pequeno-almoço. E lembram-me de coisas. Que não voltam mais. 
                 Não que fosse suposto voltarem. Quem disse que as coisas são feitas para ir e voltar ? Somos seres tão pegajosos. E memória descartável ? Todos nós dávamos grandes peixinhos de aquário. Ou avestruzes. Enterrar a cabeça na areia podia curar muitos males. 
                  Não que eu perceba de medicina. A minha mãe costumava fazer-me xarope de cenoura para a constipação e, qualquer coisa, "toma lá um ben-u-ron". E nunca quis que passasse muito disso. Hoje, as minhas palavras estão doentes. E não vão lá com pills. Asfixiadas por um nãoseioquê e um saudosismo futuresco que podia explicar-se, mas não. Estão só doentes.
            - É deste tempo.
            - Sim, é deste tempo. E do próximo, quem sabe. 
            E dou por mim a pensar que devia comprar um guarda-chuva, nunca as abriguei.  A culpa é minha. E um casaquinho e umas meias de lã. E imagino o teu nome vestido, com o que resta deste Outono. 

05 outubro 2010

Guardanapo

           Sim, é o mesmo. Um pedaço do teu chocolate preferido embrulhado num guardanapo para comeres depois do almoço. Um coração que alguém esculpiu numa parede velha. Uma canção que não faz sentido, mas que ouves. As cordas da tua guitarra. Ou da minha. O jogo que me ensinaste a jogar na tua PSP. O teu sorriso porque eu perco sempre. E rapidamente. As paredes do meu quarto. Pintadas e estranhas. É tudo o mesmo.
         Pedaços de vida que eu vou embrulhar. Num outro guardanapo. Ou num lenço de pano. Daqueles que já não se usam.E não vou reparar neles depois do almoço. Talvez a meio tarde. Quando já estiver fora de horas. E rir-me. Porque é estranho. E não faz sentido. Mas bom. Gostar do ilógico, como todos.
          E ninguém vai destruir o coração da parede velha. Porque velha, só a parede. O sentimento é novo. E igual. Todos os dias. Para os que lá passam. E vêem. O amor plantado num jardim invulgar. E sorriem. Ele há cada sítio para plantar o amor !

          - Menina, coma o chocolate. Vai derreter.
          - Agora não. Depois do jantar. A esta hora perde metade do sabor.
          E fico a lembrar-me, durante mais tempo, que o melhor da vida vem sempre embrulhado. Num guardanapo. Ou algo assim.

11 junho 2010

Llovizna

Es cuando cae la llovizna
que más me siento como soy.
que más pienso,
que menos miento
a mi miente y corazón.
Llovizna cae despacio
como si fuera
un dulce beso del cielo,
llovizna cae sola y fría,
En la noche gris
es mi música y mi día,
es mi norte y mi sur.
Llovizna sin color,
sin rumo, sin amor.
Tan llovizna como yo...
Cerca de donde quiero llegar,
pero cayemos las dos:
la llovizna y yo.


(para variar)