As minhas palavras. Estas. Secaram. Secam à medida que as escrevo, enquanto as desenho num tracejar difícil e incerto. Secas. Como as folhas de Outono que eu gosto de pisar. Porque fazem barulho, um sonar parecido com os dos cereais ao pequeno-almoço. E lembram-me de coisas. Que não voltam mais.
Não que fosse suposto voltarem. Quem disse que as coisas são feitas para ir e voltar ? Somos seres tão pegajosos. E memória descartável ? Todos nós dávamos grandes peixinhos de aquário. Ou avestruzes. Enterrar a cabeça na areia podia curar muitos males.
Não que eu perceba de medicina. A minha mãe costumava fazer-me xarope de cenoura para a constipação e, qualquer coisa, "toma lá um ben-u-ron". E nunca quis que passasse muito disso. Hoje, as minhas palavras estão doentes. E não vão lá com pills. Asfixiadas por um nãoseioquê e um saudosismo futuresco que podia explicar-se, mas não. Estão só doentes.
- É deste tempo.
- Sim, é deste tempo. E do próximo, quem sabe.
E dou por mim a pensar que devia comprar um guarda-chuva, nunca as abriguei. A culpa é minha. E um casaquinho e umas meias de lã. E imagino o teu nome vestido, com o que resta deste Outono.
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