São sussuros. Ires-te embora são
sussurros. Foi o que o Carlos disse à Rosa. E ela sorriu, mas cá para mim
guardava era as lágrimas em sítios que não se viam.
A Rosa tinha especial aptidão
para guardar lágrimas que quase lhe escapavam em momentos inoportunos. E
mascarava-as com um sorriso bonito. Tanto, que o Carlos quase refraseou só para
lhe dizer que eram sorrisos. Ires-te embora são sorrisos.
E é assim que se brinca aos
sorrisos e às lágrimas na hora de partir. Uns fazem a vez dos outros, desdizem
os outros. São os outros, às vezes. E o sorriso da Rosa era só uma lágrima
quente que desapareceu antes de lhe chegar ao queixo. E os sussurros mudos ecoavam
só na cabeça de cada um. E pela sintonia do momento, eram sussurros a ecoar em
uníssono; sussurros que fazem as malas e vão para o mesmo sítio. Apanham o
mesmo comboio, por assim dizer.
Ires-te embora é um comboio que
chega muito depressa. E partes a dizer baixinho que não queres ir; contas os
azulejos da parede só para não veres quem fica, o que fica.
A Rosa, que é tão boa a esconder
lágrimas, não quis esconder o último sorriso, que era afinal uma lágrima, um
sussurro, um comboio. Já nem ela sabe bem. Era uma coisa para não ser outra. E os nomes nem interessam na hora de
partir.
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